Fernando é enfermeiro de profissão e tem a missão de assistir as atletas da ADC Gualtar, quando apresentam algum problema físico. Abraçou esta época o projecto, a convite da equipa técnica, uma vez que já possuía experiência no futsal feminino.
Fomos conhecê-lo melhor...
Dado o seu percurso académico e toda a sua experiência em termos de carreira na área da saúde, de que forma e quando se ligou ao futsal feminino?
A minha ligação ao futebol feminino remonta a 87/88, onde assisti atletas de futebol 11 do SC Braga. Essa ligação interrompeu-se com o serviço militar. Em 2007 a minha filha Alexandra começou a praticar futsal com um grupo que se treinava em Arnoso, federando-se em 2007/2008 pela DEC Arnoso. Esta equipa, que iniciava a sua aventura como federada, não tinha massagista, pelo que entendi por bem colocar os meus conhecimentos e experiência ao seu serviço. Desta forma pude, mais uma vez, contribuir para o desenvolvimento de algo tão bonito e tão importante como é a prática desportiva, o convívio entre jovens e a quebra do tabú que o futebol é só para homens.
E esta época surge ligado a este novo projecto na ADC Gualtar. Como é que tudo aconteceu?
Após o final da época passada já tinha ouvido falar deste projecto, que assentava na constituição de uma equipa ambiciosa, com experiência e com objectivos bem delineados. Projecto esse que conheci melhor através de uma atleta com quem trabalhei a época passada. Quando a minha filha aceitou o convite para jogar na ADC Gualtar, também me foi endereçado o convite para assitir as atletas da equipa. Naturalmente aceitei, juntando o útil ao agradável, já que tinha de acompanhar a minha filha nos jogos.
Muita gente se tem referido à equipa como uma "família" dada a união que existe no grupo. Certamente que muitos desconhecem que existem mesmo laços familiares, como é o caso do Fernando e da sua filha Alexandra. Como é que lidam com o facto de fazerem parte da mesma equipa?
Para nós é uma experiência fantástica, porque nos obriga a separar os desejos pai e filha do rigor desportivo. O primeiro ano foi de alguma ansiedade pois não queríamos que os laços familiares toldassem a lucidez do rigor desportivo, nem causassem qualquer tipo de influência negativa junto da restante equipa técnica. Agora já estamos habituados, embora se note uma cumplicidade entre os dois. A alexandra vai-me dando a perspectiva do ponto de vista da atleta dentro de campo e no treino e eu dou-lhe a perspectiva do técnico que está no banco, o que nos ajuda a evoluir pois temos de ser o mais objectivos possíveis. Tudo isto é facilitado pela união que existe no seio da equipa, que apesar de haver um grupo que já trabalha junto há uns anos, quase não se distingue do resto, tal é a forma amiga e familiar que recebe e trata os elementos que se juntam a esta "família".
Existe muitas vezes a ideia que o futebol/futsal é mais talhado para o género masculino pelo esforço físico que implica e que o género feminino, sendo naturalmente mais sensível, se queixa mais que os rapazes. Quer comentar esta afirmação?
Para além do futebol feminino também tive uma passagem pelo futebol masculino, pelo que posso afirmar, com toda a propriedade que essa ideia é falsa. A experiência que tenho é que as raparigas são mais objectivas nas suas queixas e por vezes suportam melhor a dor do que os rapazes. Quanto ao esforço físico, tal como acontece com oa rapazes, depende da preparação que fazem e da motivação que têm, neste aspecto são iguais. Nos escalões unisexo é uma falsa questão porque competem com atletas do mesmo sexo.
Quanto à habilidade, técnica, inteligência desportiva, penso que as mulheres, pela sua sensibilidade, se tiverem igualdade de oportunidades em relação aos rapazes, conseguem apresentar um futebol muito mais agradável, mais elaborado.
E como são as atletas da ADC Gualtar?
As atletas da ADC Gualtar são umas lutadoras, maduras não só como atletas mas também como pessoas, relacionando-se como "irmãs". Comportam-se como uma "família", ajudando-se mutuamente e alertando as colegas para os aspectos que necessitam de corrigir. Acho que a palavra que melhor as descreve é "irmãs", em que se verifica uma relação de irmãs mais velhas e irmãs mais novas.
Ao entrar de corpo e alma neste novo desafio, certamente criou determinadas expectativas. A equipa tem correspondido a essas expectativas?
A equipa não só tem correspondido como tem excedido as minhas expectativas, que se espelha quando a equipa é referida como uma "família". O futsal, ou outra modalidade colectiva, não é só resultados desportivos. É todo um envolvimento, uma partilha, uma comunhão de valores, todo um conjunto de inter-relações pessoais, que quando atingem o ponto de amizade e familiaridade, potenciam o resultado desportivo. Esta equipa para mim, já não é apenas um grupo de atletas e técnicos que se articulam para atingir um objectivo, é uma "família" que tem um objectivo comum e que está lá para se apoiar e ajudar incondicionalmente nos bons e maus momentos.
Tal como referi na questão anterior, a sua entrega tem sido total, procurando o bem-estar constante do grupo. Esperava entregar-se deste jeito quando integrou o grupo?
Quando integrei o grupo já esperava entregar-me deste jeito, porque para mim é o poder participar num projecto que não se limita a lutar pelo desenvolvimento de uma prática desportiva feminina numa modalidade tradicionalmente masculina, mas sim levar mais alto o futsal feminino do Minho.
O futsal feminino está em franco crescimento e muito se tem falado da necessidade de um campeonato de âmbito nacional e da reactivação da selecção nacional. Como comenta o estado actual do futsal feminino?
Acho que o futsal feminino está em franco crescimento, que se pode observar pelo aumento das equipas participantes. Pese embora as dificuldades que existem para que estas equipas consigam sobreviver, porque acarreta grandes despesas... o aluguer do pavilhão, as deslocações, os equipamentos, as inscrições das atletas, os lanches para depois dos jogos, os estágios, o material de massagista, as despesas clínicas com as atletas lesionadas, etc. Contudo, se devidamente apoiado, o futsal feminino tem potencial de crescimento e não podemos esquecer o seu grande papel social, ao incutir hábitos saudáveis de vida nas jovens que o praticam, ao incutir-lhes sentido de responsabilidade, de colaboração, de partilha, de amizade...
Para finalizar, quer deixar uma palavra a todos quantos acreditam no futsal feminino?
A todos quantos acreditam no futsal feminino quero pedir que nunca desanimem perante as dificuldades, porque as nossas jovens merecem o direito de jogarem, conviverem e divertirem-se de forma saudável. Para finalizar deixo os meus parabéns pelo trabalho, dedicação e esforço de todos aqueles que lutam pelo futsal feminino.
CURIOSIDADES
Cor: Encarnado
Número: 9
Interesses: Música, Informática, Desporto
Personalidade: Introvertido, Divertido, Insatisfeito
Momento importante: Casamento
Música: Time (Pink Floyd)
Livro: O Segredo
Filme: África Minha