sábado, 22 de novembro de 2008

ENTREVISTA A BRUNO AZEVEDO

Bruno Azevedo é o treinador principal da equipa feminina da ADC Gualtar. Enquanto jogador fez formação e jogou futebol, passando depois por diversas equipas de futsal, onde inclusive venceu a Taça de Portugal e Supertaça. Cedo abraçou a carreira de treinador, primeiro numa equipa sénior masculina, depois numa equipa feminina. Deixou, no final da época passada, o comando técnico da ADER Mogege e abraçou esta época este novo projecto.

Depois da experiência no futsal sénior masculino, iniciou-se no futsal feminino. Quer explicar-nos como tudo começou?
Iniciei-me no futsal feminino após convite da ADER Mogege, em 2006. Aceitei o convite, embora com algumas resistências, porque até então só tinha jogado e treinado em equipas masculinas. Com o tempo percebi a enorme potencialidade do futsal feminino e neste momento posso dizer que trabalhar com uma equipa feminina é mais motivador, as atletas acatam melhor as decisões, além de que respeitam imenso e sentem grande vontade em evoluir. No feminino existe mais espírito de sacríficio, querer e determinação.
E depois da ADER Mogege surge esta época ligado a um novo desafio...
Sim, passei lá dois anos, onde comecei praticamente do nada a todos os níveis. Foi difícil mas devemos ver sempre tudo de forma positiva, até porque deu para perceber e aprender muita coisa. Este ano surgiu a oportunidade de abraçar um novo projecto, fruto também da realização pessoal da equipa técnica e das atletas, que sempre quiseram fazer parte da mesma equipa.
E como aparece a ADC Gualtar?
De forma pensada e sustentada, quer pela equipa técnica quer pelas várias atletas envolvidas, juntamos o útil ao agradável e traçamos um novo rumo. Sabíamos das dificuldades de formar uma equipa mas também sabíamos das nossas capacidades. Perante um grupo com tanta qualidade não era difícil arranjar clube. Foi então que, já com a estrutura toda definida, apresentamos a proposta à ADC Gualtar. Arranjamos um patrocinador, que desde sempre acreditou no projecto, que nos ajudou a concretizá-lo e que está sempre ao nosso lado, possibilitando-nos as melhores condições.
Como se sente nesta nova etapa?
Posso dizer que sou um treinador feliz. Tenho um grupo de atletas que já conhecia e em quem sempre confiei, às quais juntei atletas muito jovens e com grande qualidade, capazes de evoluir e de serem grandes jogadoras. Junto a tudo isto temos uma grande união de todo o grupo, que sem dúvida é a mais-valia do projecto.
Depreendo das suas palavras que se sente realizado...
Sim, posso dizer que sim. O projecto é uma realidade, as atletas assimilaram bem todos os conceitos e sobretudo sentem que têm um importante papel. Toda a gente se sente parte do projecto e responsável por ele.
De acordo com o que nos diz e sabendo-se que é uma equipa nova no futsal feminino, até onde pode ir este Gualtar?
As atletas já se conheciam antes. Algumas delas acompanharam-me na criação deste novo projecto, outras juntaram-se pelo tal desejo de jogarem juntas e serem treinadas por esta equipa técnica, mas na realidade não podemos chamar equipa nova. É nova em termos de surgir pela primeira vez em prova, mas as atletas, tirando as mais novas, já possuem larga experiência no futsal. Quanto à questão propriamente dita, posso dizer que temos os pés bem assentes e sabemos o que queremos. Sabemos que, apesar de termos atletas com muita qualidade, uma equipa rotinada não se constrói de um dia para o outro. No entanto, quando olho para as minhas atletas e vejo o esforço que fazem, o gosto com que encaram as coisas e a união e a força que transmitem, sou obrigado a achar que se podem fazer coisas bonitas. Mas o objectivo principal é e sempre foi que a equipa cresça e evolua de jogo para jogo. No final logo se verá.
A equipa vai na frente. Venceu todos os jogos e apenas empatou no último jogo...
Sim, vamos na frente do campeonato juntamente com a equipa de Vermoim, com a qual empatamos esse último jogo. Sei que muita gente não gostou da nossa prestação na primeira parte e temos consciência que não correu tão bem como planeamos, mas tudo fazia parte da nossa estratégia para o jogo. O adversário é composto por atletas que jogam juntas acerca de 7 anos, enquanto nós estamos à procura das tais rotinas. Tirando isto havia ainda uma série de factores que me levaram a optar por aquele sistema numa fase inicial. Basta dizer que na semana que antecedeu a partida tive várias atletas em dúvida para o jogo e mesmo no dia tive jogadoras incapacitadas de dar o seu melhor. Em termos futuros a única coisa que posso garantir é que vamos trabalhar a equipa de forma a entrar em cada jogo sempre com o máximo empenho e concentração e sobretudo alegria, que na minha perspectiva é o fundamental para o desempenho pleno das suas capacidades.
Acha importante então a parte psicológica da atleta?
Ora aí está o antídoto necessário para o sucesso de qualquer desporto, individual ou colectivo. O meu passado como atleta dissipa qualquer dúvida acerca disto. Um treinador pode preparar minuciosamente um jogo e ter soluções para todos os possíveis problemas, mas pode ser tudo inútil caso a atleta psicologicamente não esteja bem. Assim, posso confessar que tenho um cuidado muito grande, juntamente com os outros elementos da equipa técnica, para que este aspecto tão importante não prejudique o desempenho individual da atletas, que por vezes pode pôr em causa o colectivo. E quando estamos a falar de futsal feminino então o cuidado tem de ser redobrado.
O que acha do futsal feminino em Portugal?
Actualmente temos muitas atletas de qualidade. Como é óbvio fico triste por não existir um campeonato nacional, quanto mais não fosse dividido em zona norte e zona sul. Não tenho dúvidas que seria um êxito e o nível de competitividade iria aumentar substancialmente. A reactivação da selecção nacional também me parece uma aposta obrigatória a médio prazo, dadas todas as conjecturas que começam a surgir. E um bom exemplo foi recentemente a prestação portuguesa no Mundial Universitário. E é preciso não esquecer que para além das atletas universitárias existem outras, em nada inferiores, reunindo todas as condições para uma excelente selecção. Acredito que este desejo, que também é de todos, se irá concretizar.
Para terminar, quer deixar alguma mensagem?

Neste momento, em que levamos cerca de três meses de trabalho, sinto-me na obrigação de felicitar as minhas atletas pelo que têm feito até então. Sou uma pessoa feliz e orgulhosa por poder treinar atletas com esta qualidade. Digo isto sem qualquer problema, porque além de grandes atletas são grandes pessoas, daquelas que todos os treinadores gostavam de ter. Pessoas que acima de tudo gostam de estar juntas, que ficam tristes quando alguém está triste e que ficam felizes quando o grupo está feliz. Os resultados perante isto não são o mais importante, mas como é óbvio, quando uma equipa adquire esta postura os resultados positivos acontecem com naturalidade.
Não posso terminar sem antes deixar uma palavra a duas pessoas que sempre trabalharam comigo e que têm uma influência importantíssima nesta estrutura, que são a Estrela Paulo e a Sónia Alves. Sem dúvida que muito do sucesso da equipa passa por elas.
Para todos os amantes do futsal feminino um forte abraço e continuação de bom trabalho.

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